ANC promete <br> continuar Mandela

Carlos Lopes Pereira

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Na África do Sul, o Congresso Nacional Africano (ANC) festejou 102 anos de vida e luta e prepara-se para mais uma decisiva batalha política. Batalha que, nas quase duas décadas desde o fim do apartheid, será travada pela primeira vez sem a presença de Nelson Mandela, o líder histórico desaparecido em Dezembro.

O objectivo do mais antigo movimento de libertação nacional africano é vencer as eleições gerais previstas para o segundo trimestre deste ano e continuar a governar e a desenvolver o país. Liquidando a pobreza que atinge ainda largos sectores da população, combatendo o desemprego, as desigualdades sociais, a corrupção, redistribuindo com mais justiça a riqueza produzida pela mais pujante economia do continente.

Na sua mensagem de ano novo, o presidente do ANC e da África do Sul, Jacob Zuma, comprometeu-se a assumir o legado de Nelson Mandela e exortou o povo a continuar a trabalhar para «construir uma África do Sul unida, multirracial, não-sexista, democrática e próspera».

Segundo Zuma, os valores que Mandela defendeu «devem guiar o nosso trabalho, à medida que continuamos a construir a sua herança» e, «em sua memória, devemos continuar a reconciliar e unificar a nossa nação arco-íris e aprofundar o seu carácter multirracial».

Há poucos dias, num comício em Nelspruit, no Nordeste do país, perante 60 mil apoiantes, o presidente prometeu intensificar as políticas para erradicar a pobreza também nas zonas rurais e, por outro lado, assegurou que o governo do ANC não dará tréguas à corrupção «sob todas as formas e em toda a parte». Zuma referiu-se a uma reforma agrária respeitando a Constituição e anunciou medidas «audaciosas» visando criar seis milhões de postos de trabalho e melhorar a vida do povo.

Os sul-africanos vão às urnas (em Abril ou Maio, as eleições ainda não têm data marcada) escolher os deputados provinciais e nacionais. O parlamento elegerá depois o presidente da República, cargo a que Zuma se recandidata.

Para a maioria da imprensa e dos observadores, o ANC deverá vencer uma vez mais o escrutínio, mas sondagens recentes indiciam que poderá ter menos de 60 por cento dos votos, o que, a confirmar-se, aconteceria pela primeira vez nestes 20 anos do pós-apartheid, ao longo dos quais o governo (presidido primeiro por Mandela, a seguir por Thabo Mbeki e depois por Zuma) teve amplo apoio popular.

 

Aliados de confiança

 

Opondo-se ao ANC nas urnas, entre as dezenas de forças políticas concorrentes, destaca-se a Aliança Democrática, até hoje o principal partido da oposição. Dirigida por Helen Zille, uma antiga jornalista que se opôs ao apartheid, procura alargar a sua base social e descolar da imagem de «partido dos brancos».

Marca também presença o Congresso do Povo (Cope), uma cisão do ANC em torno do antigo presidente Mbeki. Em 2009 obteve 7,4 por cento dos votos mas está enfraquecida por várias divisões.

E há dois partidos recém-formados: o Economic Freedom Fighters (EFF), de Julius Malema, com posições populistas e racistas, que procura apoios sobretudo entre a juventude; e o Agang («Construir», em língua sotho), de Mamphela Ramphele, viúva de Steve Biko, à conquista da emergente classe média «negra». Ambas as formações contam atrair votos de antigos apoiantes do ANC, hoje descontentes com a situação no país.

Ao lado do ANC mantêm-se firmes, ainda que numa ou noutra matéria manifestem pontos de vista diferenciados, o Congresso dos Sindicatos Sul-africanos (Cosatu) e o Partido Comunista Sul-Africano (Sacp), membros da tripla aliança progressista que governa desde 1994 a África do Sul.

Por ocasião do 102.º aniversário do ANC, a 8 de Janeiro, as duas organizações lembraram a luta comum contra «a opressão colonial e a exploração imperialista» e a vitória duramente conquistada sobre o apartheid e reafirmaram o seu compromisso com a aliança que sustenta o governo.

Numa mensagem tornada pública, os comunistas sul-africanos renovaram o apoio ao ANC – «um aliado de confiança» – nas próximas eleições, evidenciaram a importância da unidade das forças progressistas e revelaram que já estão em campanha rumo a uma nova vitória nas urnas que permitirá prosseguir e aprofundar a revolução democrática e nacional na África do Sul.

Igualmente a Cosatu, que representa dois milhões de trabalhadores, felicitou o ANC, invocou o heróico trajecto histórico do movimento, realçou a importância da tripla aliança e previu que, nas eleições deste ano, os sul-africanos renovarão uma vez mais o mandato do ANC para «criar uma vida melhor para todos».



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